45 Sugestões de como melhorar a educação no Brasil - Pesquisa

Alunos vão para escola e não aprendem, o governo gasta bilhões e a educação no Brasil não decola. Veja 45 sugestões para mudar esta realidade no país.
1 – Usar de modo eficiente o tempo em sala de aula
Muitas das medidas que poderiam causar grande transformação na sala de aula não acarretariam em gasto algum. Usar de maneira eficiente o tempo em que alunos já estão na escola é uma delas.
Estudo do Banco Mundial divulgado no ano passado, realizado a partir da observação in loco de pesquisadores da instituição, mostrou que apenas 66% do tempo de sala de aula no Brasil é gasto efetivamente com o ensino.
Outros 34% são desperdiçados com atividades burocráticas, como chamada, a cópia de deveres de casa ou pedindo disciplina. A cota de “desperdício” em países da OCDE é de apenas 15%. Usar sabiamente o tempo em sala de aula é uma das mais baratas e eficientes maneiras de melhorar a educação no Brasil.
2 – Abandonar ideia de que só vale agir com mais dinheiro
Virou moda no Brasil pensar que os problemas da educação só serão resolvidos se houver muito mais dinheiro para o setor. Nesta linha, a principal bandeira da União Nacional dos Estudantes e de alguns parlamentares é a destinação imediata de 10% do PIB para a educação.
O país que mais investe no mundo hoje, a Islândia, despeja apenas 7,8% de sua riquezas.
“É um fetiche por um número redondo”, afirma Gustavo Ioschpe, economista especialista em educação.
O problema real desta ideia é que causa uma aparente paralisia dos envolvidos para as melhoras que podem – e devem – ser efetuadas agora. Enuanto a agenda quantitativa é perseguida com lobby no Congresso, a qualitativa fica esquecida por professores e gestores que compram a ideia de que só mais verba pode melhorar a educação no Brasil.
3 – Universalizar a educação de verdade
Nas últimas duas décadas, o Brasil quase conseguiu universalizar a educação pública em um processo notável e propalado pelos governantes de plantão.
A palavra universalizar, no entanto, esconde ainda um montante de 3,8 milhões de crianças e jovens entre 4 e 17 anos fora da escola, segundo dados do Movimento Todos pela Educação.
O problema é concentrado no universo de crianças entre 4 e 5 anos e jovens acima de 14 anos. No meio deles, a educação é quase universalizada. Rumo a uma educação de qualidade, o Brasil deve avançar mais.
4 – Reformular o Ensino Médio
Do estado periclitante da educação brasileira, nenhum é tão ruim quanto do Ensino Médio. Entre as notas do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), a do ensino médio é a mais baixa: 3,1, de 10.
Parte das pessoas culpa o número de disciplinas ensinadas aos estudantes, 13; a outra, a maneira enciclopédica, que tenta ser passada de maneira mais profunda que o necessário.
Escreveu em um blog um aluno bolsista da Fundação Estudar, quando estudava nos Estados Unidos: “Aqui o aluno não tem que aprender Matemática, Biologia ou Geografia em detalhe”, constatou.
O fato é que o assunto voltou à tona recentemente, quando o Ministro da Educação, Aloízio Mercadante, mostrou disposição de mudar o ensino médio, tornando-o mais multidisciplinar e integrado.
5 – Garantir escolas com infraestrutura decente
Tem razão a garota Isadora Faber, de 13 anos, que desde agosto ficou famosa ao denunciar a condição precária de sua escola pela página no Facebook Diário de Classe. É dela a foto ao lado.
Embora haja exemplos pontuais de professores que conseguiram arrancar um bom desempenho de crianças e jovens em escolas em péssimas condições, é unânime entre educadores, apoiados em pesquisas, que uma infraestrutura adequada, com lousas e giz (ou caneta), instalações cuidadas e carteiras, sem falta de materiais necessários ao aprendizado, acarretam em melhor resultados dos alunos.
Acabar com a desigualdade entre escolas públicas bem cuidadas e outras caindo aos pedaços, com falta de materiais, é dar oportunidades equânimes aos brasileiros de todas as regiões.
6 – Cooptar alunos talentosos para magistério
Uma pesquisa da Fundação Victor Civita, em 2009, constatou que a carreira de professor costuma ser hoje mais procurada por estudantes da rede pública, muitas vezes vindos de um panorama menos favorecido em termos escolares, culturais e financeiros.
É uma diferença brutal para países como Finlândia e Coreia do Sul, onde os melhores alunos querem ser professores, até mesmo do do ensino básico. No Brasil, somente os docentes de nível superior parecem manter algum prestígio como carreira.
Fazer a educação brasileira se equiparar a destes países necessariamente passará por tornar a docência do ensino fundamental e médio atrativas no país.
A questão pode até perpassar melhores salários. Sabe-se, no entanto, que aumentar o soldo não melhorará o trabalho dos professores que estão aí, embora possa servir para atrair alunos mais bem aplicados no futuro.
Mas é preciso aumentar a dinâmica da carreira para atrair uma geração mais interessada em ascender do que ficar 30 anos exatamente fazendo a mesma coisa.
E, quem sabe, conseguir atrair estudantes como o paraibano Felipe Abella, da foto ao lado, acostumado a ficar entre os primeiros em Olimpíadas mundiais do conhecimento, antes e depois de entrar na universidade.
7 – Implantar a meritocracia para professor
Prática adotada em várias profissões com ótimos resultados, a meritocracia ainda precisa ser implantada de verdade no país, mas com cuidados. Em educação, o conceito não se restringe ao pagamento de bônus.
Este, inclusive, demanda cuidados.
As pesquisas no setor não permitem concluir se o sistema funciona, ou como deveria funcionar.
O principal problema é isolar o papel do professor. Como dar menor bônus a um docente do 6º ano que conseguiu elevar o desempenho de alunos com deficiências em 50%, em relação ao professor que, com uma turma já melhor formada, quase nada fez? Mesmo que, ao final do ano, o desempenho da segunda turma ainda seja melhor.
Mas meritocracia é um conceito amplo que deve permear todo o sistema: da escolha dos gestores aos repasses para a escola, entre outros.
8 – Criar um currículo nacional
O Ministério da Saúde, para padronizar o atendimento de uma pessoa doente em Manaus ou no interior do Paraná, lança os chamados Protocolos Clínicos (PCDT) de várias doenças. O Ministério da Educação não faz o mesmo com sua área.
Nem estabelece o que as crianças deveriam aprender em cada idade, o que seria um importante instrumento para medir – e se cobrar – qualidade no ensino.
“A justificativa disso é deixar o professor contextualizar na sua sala o que o aluno deve aprender. Mas quando o governo não cria um currículo, ele deixa alguém criar”, afirma Denis Mizne, diretor-executivo da Fundação Lemann, organização criada pelo empresário Jorge Paulo Lemann para trazer soluções para a educação brasileira.
No caso, são os próprios professores e as editoras de livros escolares que terminam por decidir algo que deveria ser definido pelo governo. É possível resolver o problema ainda dando espaço para diferenças regionais e culturais.
9 – Combater o absenteísmo
Os 200 dias letivos e as 800 horas-aula do Brasil hoje são uma ilusão. Ilusão porque, como visto, este tempo é em grande parte desperdiçado. Ilusão, também, porque nem todos os professores trabalham todos os dias.
“É como chegar no trabalho e em um dia a porta está fechada, no outro o chefe não aparece, e por aí vai”, afirma Denis Mizne, da Fundação Lemann. O resultado é que isso dificulta a cultura de estudar dos alunos.
Trinta e três por cento dos gestores escolares reconhecem que os professores faltam “muito”, mas levantamentos de secretarias estaduais mostram números bem mais chocantes.
As consequências são desastrosas. Em “A Falta faz falta?”, pesquisadores da FGV e do Mackenzie constataram que a nota média dos alunos em matemática piorava 5% a cada 10 dias faltados pelos professores. É preciso conhecer as causas do problema a fundo – e combatê-las.
10 – Usar mais tecnologia (software)
Quanto mais você pesquisa no Google ou participa da rede social Facebook, mais a internet conhece você e seus gostos, criando um poderoso material para venda de publicidade por parte dessas empresas. Os faturamentos são bilionários.
Surpreende, portanto, que softwares inteligentes não estejam sendo usados para o bem coletivo através da educação.
“A vantagem da tecnologia é permitir a individualização da aprendizagem, algo que a pedagogia defende há muito tempo”, afirma Denis Mizne, diretor-executivo da Fundação Lemann.
O uso mais intensivo de tecnologia, porém, não é o demagógico conceito de entregar tablets e computadores para crianças sem saber o que fazer com eles, algo que se provou um fracasso no programa Um Computador por Aluno.
“O tablet é a lousa, o que vai ser escrito é que importa”, defende Mizne. Por isso, é mais importante definir um bom e eficiente software. Um que possa aprender com o aluno conforme ele estuda, por exemplo.

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